Conteúdo atualizado em 14/12/2024 por Paulo Machado

A estratégia omnicanal se refere à capacidade de conectar pessoas a produtos e serviços de maneira fluida, em qualquer lugar e a qualquer momento, sem atrito e com conveniência. Em um mundo onde as fronteiras entre os canais de compra são cada vez mais tênues, a implementação de uma abordagem omnicanal se tornou essencial para o sucesso das empresas. No entanto, muitos varejistas ainda cometem o erro de tratar algumas ações digitais como se fossem suficientes para alcançar uma verdadeira estratégia omnicanal. A realidade é que essa estratégia deve ser pensada de forma integrada, abrangente e alinhada com os objetivos do negócio.

Desafio 1: alinhamento da estratégia omnicanal

Uma das maiores dificuldades na implementação de uma estratégia omnicanal é o alinhamento interno da organização. Em muitos casos, há uma falta de compreensão clara sobre o que significa ser omnicanal para o negócio. Executivos de diferentes áreas — marketing, TI, logística, operações — têm visões distintas sobre o que a omnicanalidade envolve, e isso pode gerar confusão e desalinhamento nas ações.

A falta de compreensão

Para os executivos de marketing, a omnicanalidade pode significar engajamento de clientes tanto no mundo online quanto offline. Para a TI, pode se traduzir na necessidade de sistemas e bases de dados integrados. A logística, por sua vez, busca entregar com o menor custo possível, independente do canal utilizado. As operações, por sua vez, podem ter foco em facilitar o acesso aos produtos, oferecendo estratégias como o Click & Collect. O resultado disso? Uma estratégia fragmentada e ineficaz.

Superando os desafios de alinhamento

Alinhar todas as áreas da empresa é fundamental para garantir uma estratégia omnicanal bem-sucedida. Para isso, é importante que todos os departamentos trabalhem com um entendimento único e transversal sobre o que a omnicanalidade representa. Para empresas tradicionais, com modelos de negócios mais rígidos, a mudança de mindset é um desafio ainda maior.

Uma solução eficiente é buscar consultoria especializada ou formar um núcleo interno dedicado à inovação, com habilidades em tecnologia, análise de dados e uma visão holística do negócio. Este núcleo deve estar livre das operações cotidianas para focar no desenvolvimento e execução da estratégia omnicanal.

Desafio 2: testar, aprender e inovar

Uma das chaves para o sucesso de uma estratégia omnicanal é a capacidade de testar, aprender e ajustar. Em um ambiente de constante transformação digital, é essencial experimentar novas abordagens, monitorar os resultados e evoluir com base no aprendizado.

A filosofia de “testar & aprender”

O processo de testar novas ideias em um ambiente controlado e de baixo risco é fundamental. As equipes devem trabalhar de forma ágil e iterativa, adotando o modelo de “Testar & Aprender”. Quando uma solução funciona, ela é escalada; se não funcionar, é descartada. Esse ciclo contínuo de experimentação permite que as empresas se adaptem rapidamente às mudanças do mercado e às expectativas dos consumidores.

Um exemplo bem-sucedido dessa abordagem é o LuizaLabs, um laboratório de inovação criado pelo Magazine Luiza. Desde 2011, o LuizaLabs tem desenvolvido novas soluções tecnológicas que facilitam a experiência de compra do consumidor, ajudando a empresa a se posicionar como uma das líderes no e-commerce brasileiro.

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Autonomia para inovar

Para que a inovação aconteça é necessário dar autonomia às equipes, permitindo que atuem com liberdade para implementar mudanças e testar novos modelos. Inicialmente, o número de decisores deve ser restrito para garantir agilidade, mas os resultados devem ser compartilhados com toda a organização, para fomentar a colaboração e o aprendizado contínuo.

O impacto da omnicanalidade no modelo de negócio

A omnicanalidade não se resume a uma simples integração de canais. Ela representa uma mudança profunda na forma como as empresas se relacionam com seus consumidores e como gerenciam suas operações.

O desafio do “economics” da omnicanalidade

Um dos maiores desafios da omnicanalidade é o impacto econômico. Em um modelo tradicional, as empresas medem o sucesso com base em indicadores como EBITDA, Lucro Líquido ou Margem Bruta. No entanto, em um negócio omnicanal, o valor gerado não é tão facilmente mensurável. A experiência do cliente e a relevância da marca muitas vezes superam os resultados financeiros imediatos.

Empresas com uma forte estratégia omnicanal, como Amazon e Apple, demonstram que a verdadeira valorização vem de sua relevância para o consumidor, não apenas dos lucros financeiros imediatos. A Amazon, por exemplo, não segue o modelo tradicional de ROI, mas sua estratégia de valor agregado ao consumidor tornou-a uma das empresas mais valiosas do mundo.

Exemplos de sucesso na implementação de ecossistemas omnicanal

Empresas ao redor do mundo estão implementando estratégias omnicanal bem-sucedidas que integram seus canais físicos e digitais para oferecer uma experiência fluida e sem atritos para seus clientes.

Exemplos globais de sucesso

Plataformas como Amazon e Apple têm desenvolvido ecossistemas que conectam consumidores a uma gama de produtos e serviços de maneira integrada. A aquisição da Whole Foods pela Amazon é um exemplo claro de como a gigante do e-commerce está expandindo sua presença no varejo físico, enquanto mantém sua plataforma online como o centro de sua estratégia.

Exemplos no Brasil

No Brasil, empresas como GPA, Via Varejo, Magazine Luiza e Centauro estão fazendo grandes avanços em suas transformações digitais, criando ecossistemas que integram serviços financeiros, e-commerce, e lojas físicas. Essas empresas estão se tornando mais eficientes, com o foco em entregar uma experiência superior ao consumidor, seja na loja, no app ou em plataformas online.

A transformação digital e os benefícios operacionais

A transformação digital não é apenas sobre inovação de produtos e serviços, mas também sobre eficiência operacional. A integração de canais físicos e digitais pode melhorar significativamente a operação das empresas, otimizando estoques, acelerando a entrega e proporcionando uma experiência de compra mais eficiente e personalizada.

Eficiência operacional: o caso do GPA

O GPA criou minicentros de distribuição dentro de suas lojas Extra, o que permite otimizar a logística e reduzir custos operacionais. Além disso, iniciativas como o Pick-Up in Store e o Ship From Store são exemplos de como a estratégia omnicanal pode reduzir custos e melhorar a experiência de entrega para os consumidores.

Coleta e análise de dados

Uma das grandes vantagens da omnicanalidade é a capacidade de coletar dados valiosos tanto do ambiente físico quanto digital. Ferramentas de coleta de dados em lojas físicas, como heat maps, fluxo de loja e análise de comportamento do consumidor, permitem que as empresas ofereçam uma experiência ainda mais personalizada e eficiente.

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Além disso, o cruzamento de dados entre os canais online e offline permite que as empresas criem ofertas personalizadas, interajam com os consumidores de maneira segmentada e melhorem suas estratégias de marketing.

O futuro da estratégia omnicanal

A implementação bem-sucedida de uma estratégia omnicanal exige uma mudança cultural nas organizações. As empresas precisam estar dispostas a se adaptar e inovar continuamente, com foco na experiência do cliente. A transformação digital deve ser patrocinada pela liderança e deve ser encarada como um compromisso de longo prazo.

A estratégia omnicanal não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para as empresas que buscam se destacar em um mercado cada vez mais competitivo. Aqueles que conseguirem alinhar suas operações, testar novas ideias e criar uma experiência de cliente sem atritos estarão melhor posicionados para prosperar no futuro digital.

Conclusão: a jornada para o sucesso omnicanal

A implementação de uma estratégia omnicanal não é uma tarefa fácil, mas seus benefícios são claros. Empresas que conseguem integrar canais de forma eficiente, inovar constantemente e focar na experiência do cliente estarão mais preparadas para enfrentar os desafios do futuro. A chave para o sucesso está no alinhamento organizacional, na capacidade de testar e aprender e na transformação digital contínua.

Se sua empresa ainda não deu os primeiros passos na jornada omnicanal, agora é o momento de começar.

Autores

  • Jean Paul Rebetez é Head de Estratégia e Gestão e sócio-fundador da Gouvêa Consulting, empresa integrada a Gouvêa Ecosystem. É especialista em varejo, consumo, omnichannel e transformação da gestão, coordenando grandes times de liderança para aceleração de desempenho. Trabalha diretamente com empreendedores e grandes executivos (C-levels), desenvolvendo projetos de consultoria, com repensar estratégico, ressignificação de negócio, propósito e formação de cultura de desempenho, baseada em sólida experiência, em alinhamento de metas e em indicadores estratégicos. É articulista digital, palestrante e curador de missões técnicas internacionais e nacionais.

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  • Kate Moraes é assessora de imprensa e produtora de conteúdo da Gouvêa Ecosystem. Formada em jornalismo pela PUC-Rio, com MBA em Marketing, tem mestrado em Gestão Internacional pela Université Pierre-Mendes, na França. Ao longo de sua carreira, trabalhou com comunicação e eventos, atuando nas áreas de Construção Civil, Educação Internacional, Logística, Resseguro, Saúde, Tecnologia, Telecomunicações, Terceiro Setor e Varejo.

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